A face logo abaixo dos olhos arde. As lagrimas estão ali, mas elas não saem. Estão aprisionadas pelo rancor ou algum trauma. Meu corpo grita por dentro, meu sangue corre levando as lagrimas. Um choro interno impossível de demonstrar. Como pode tanta frieza em uma pessoa? Não sei. Mas sei que sou. Não possuo o dom de controlar meus sentimentos. Como pode isso acontecer? Mal humorada quase nunca. Sou mais a ausência de emoções; um vazio que ninguém compreende integralmente. Isso pode soar melancólico, mas é a minha verdade. Sou assim e ponto. Ações impessoais minhas são comuns. Ser franca e sincera me afasta dos outros; até mesmo aqueles que possivelmente gosto. Não mantenho relacionamentos. Não consigo. Não quero. No final sempre acabo machucando alguém. Meu corpo não sabe lidar com os processos sociais básicos.
Mas talvez eu não seja a ausência de sentimentos, o vazio; mas sim, uma coisa tão lotada de informações, sensações e percepções que não me permito o novo. Não existe reciclagem, é impossível jogar as recordações no lixo. Elas estão ali, escondidas atrás dos olhos, um lugar já lotado de amargura. E quando são ativados por um novo conflito, liberam água para que a frieza escorra para fora. Mas não sai nada. Não compreendo a ação mais antiga para demonstrar emoção. Chorar. Mas ainda tenho os mecanismos necessários. Agora como eu os uso ou deixo de usar não é por opção, ou é. Mas nada disso realmente importa, importa?